12 maio 2008

Caiu a máscara de Jajá



Cefas Carvalho

Pessimista (ou realista) que sou, nunca fui muito de acreditar que as pessoas podem mudar para melhor. Geralmente, mudam para pior. Também nunca fui muito de crer que de um rio poluído pudesse sair água potável. Mas, eis que a realidade por vezes nos surpreende e nos brinda com coisas inusitadas. Neste sentido, tive uma alegria nos últimos tempos com o ilustre senador José Agripino Maia, de quem jamais esperei ter qualquer tipo de satisfação. Após tantos anos acompanhando os "rabos de palha" de Jajá e seus vitupérios contra o Governo Lula e qualquer coisa se assemelhe à Esquerda e aos movimentos progressistas, tive a satisfação de assistir a um ato falho do "democrata" em pleno Senado, por ocasião da sabatina à ministra Dilma Roussef sobre o dossiê contra os "tucanos". Agripino, tomando como base uma entrevista da ministra à Folha sobre seus tempos de presa política na época da ditadura militar, questionou se ela não mentiria no Senado como mentiu quando presa e torturada. A resposta de Dilma já entrou para a história da política brasileira e dos Direitos Humanos no país. "Numa democracia, se fala a verdade, mas numa ditadura se mente para salvar a vida dos iguais, para não morrer". Lembrou ainda que estavam em lados opostos nos anos 70, Dilma, guerrilheira, e Jajá, curtindo com a família as benesses da ditadura, prefeito biônico que foi. Dilma foi aplaudida e se entrou como investigada, saiu como heroína. Na opinião de muita gente, e minha, Agripino lançou a candidatura de Dilma à presidência da República. Leio que muitos oposicionistas se irritaram com Jajá, posto que ele não deveria ter colocado Dilma na condição de torturada por um regime brutal. É que no processo mental de Agripino, não houve ditadura e sim "revolução", como muitos ainda tratam o Golpe Militar de 64, que privou o país dos diretos básicos durante duas décadas. Talvez o ex-pefelista tenha saudades dos tempos em que familiares seus eram nomeados governadores sem disputa de votos democrática. Talvez o senador ache realmente que os jovens que se insurgiram contra um regime opressor devessem sofrer um pouco no pau de arara para "tomarem jeito". O ato falho de Agripino reflete como pensa e sente parte da elite brasileira na faixa dos 50 anos, que, no fundo, tem nostalgia dos tempos em que os militares batiam primeiro e perguntavam depois e que os prefeitos eram ungidos com base na amizade que tinham com os militares mandatários de plantão. Caiu a máscara do senador. Bem vindo à democracia, Jajá.

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