29 julho 2009

Beleza não põe mesa


Cefas Carvalho

Não, a estética convencional não me agrada e não pretendo ser escrava da beleza tradicional, esta beleza das estátuas gregas e dos astros e estrelas de cinema. Por esta razão, arranquei as unhas, sim, uma por uma, com uma tesourinha afiada... depois foram os dedos, não todos, claro, mas, arranquei fora o dedo mindinho da mão esquerda... Ora, por que se precisa do dedo mindinho, para quê ele é necessário. Cabelos? Arranquei os fios, primeiro um por um, depois, sem paciência, em chumaços, em tufos, mas ainda sobraram alguns fios desconectados entre si... Já disse que a beleza convencional não me atrai, e, por mim, pode ser destruída, como fiz com os lábios, primeiro, enchi-os de batom, depois com uma chave de fenda, despedacei-os, quero ver eles se abrirem para um sorriso sedutor, pois sim... Bem, depois lanhei as pernas, com a mesma chave de fenda, sim, passei a chave nas pernas como quem passa um giz em um quadro negro, com conhecimento e decisão. Para completar a obra, rasguei as roupas, fúteis, banais, tecido em farrapos... Repito que a beleza não me interessa, gosto do feio – que para mim é belo - do destroçado, do imperfeito, sempre fui assim, fazer o quê? Ora, mãe, não faça essa cara! Eu digo há anos que detesto bonecas, odeio bonecas!, e você ainda me compra esta Barbie!... Sinceramente, mãe! No ano que vem posso ganhar de presente de aniversário um Banco Imobiliário?

4 comentários:

Iara Maria Carvalho disse...

adorei Cefas!
adorava banco imobiliário...
e que sutilezas anjosianas colhi por aqui...
uma delícia de ler o seu texto...
ah...e quanto ao meu "trajeto" publicado lá na minha página, na verdade vc o leu na coletânea do Zila, foi um dos poemas vencedores!

um beijo grande!

Grupo Casarão de Poesia disse...

querido Cefas!
confira as novidades do Casarão!

beijos...

Maria Ednar Andrade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucian Kleyton disse...

Muito bom. Isso é um fato que hoje, infelizmente, não é raro para nossas crianças.