22 agosto 2012

Perfis de mulher: Lana


Contendo nada menos que três obras primas, a trilogia chamada “Perfis de mulher” foi escrita pelo cearense José de Alecar e consiste em verdadeiras pérolas da literatura brasileira. Composta pelos romances “Diva”, “Lucíola” e “Senhora”, a série é subestimada e confundida com obras de menor cunho (como “Inocência” e “A moreninha”). Bem, como homenagem a Alencar e à  alma feminina, este espaço começa, a partir desta edição, a sequência “Perfis de mulher”, com textos já publicados neste blog (como o conto abaixo) e outros totalmente inéditos que virão. Confira agora o conto “Lana”.

Cefas Carvalho

Chamava-se Lana, como na canção de Roy Orbison. Ela era bela e triste, como todas as canções do Roy. Conheci-a em um bar, lugar sagrado onde geralmente conhecemos as pessoas importantes que marcam a nossa vida. É tolice tentar descrevê-la. Bem sei que não tinha uma beleza convencional, tampouco era dona de imensos olhos azuis, como nos clichês românticos. Era bela e normal. Estava sozinha na mesa, iluminando o local com seus olhos melancólicos e oblíquos, como diria Machado de Assis de sua Capitu. Ganhei coragem para abordá-la e me convidei para sentar à sua mesa. Ela concordou, disse como se chamava – Lana... – e conversamos sobre tudo e sobre nada... Compartilhamos nossas tristezas, rimos das nossas parcas alegrias nesta vida, descobrimos que ambos estávamos sozinhos e à deriva, tanto naquela noite como na própria vida, e por fim convidei-a para passar a noite no meu apartamento. Compramos uma garrafa de vinho tinto barato, pegamos um táxi e nos trancamos em nosso pequeno universo. Foi uma noite inesquecível, com Lana em meus braços...daquelas noites que não deveriam terminar nunca. Terminados os jogos amorosos, cogitei pedir seu número de telefone e perguntar onde ela morava, e talvez jurar aos seus pés que queria vê-la mais mil vezes, mas considerei que, quando acordássemos, pela manhã, eu faria tudo isso e muito mais. Dormi o sono dos justos e dos exaustos de tanto amar. Acordei com uma leve ressaca por volta das onze e, quando dei por mim, percebi que Lana não estava mais no quarto. Não estava mais no apartamento, havia ido embora. Dando uma geral pela casa, percebi que tudo estava em ordem, ela não levara nada, mas também não deixara nada. Talvez, só, ainda mais tristeza dentro de mim. Recordei, mais melancólico do que nunca da canção de Roy : Oh beautiful Lana...

Imagem: Egon Schiele

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