15 dezembro 2014

Coletânea de contos eróticos potiguares “Entre dedos” se encontra à venda pelo Selo Caravela


Na quarta-feira dia 3 de dezembro, houve o lançamento do livro-coletânea de contos eróticos "Entre dedos..." no Café Salão Nalva Melo. Organizado pelo editor José Correia Torres Neto, do Selo Caravela  diversos escritores potiguares produziram  produzirem contos eróticos inéditos, sem censura alguma, para a obra. Entre eles, este blogueiro que vos escreve, e mais Eliade Pimentel, João Andrade, Cristiano Felix, o próprio José Correia Torres Neto, Dora Cruz, Kaline Sampaio, Jeanne Araújo, Aparecida Fernandes, Jania souza, Lola Santos, Maria Marcela Freire, Maria Maria Gomes, Fábio DeSilva e Sheyla Azevedo. 
 O livro, que ficou um primor em termos editorais, também tem conteúdo de primeira. Participei da obra com dois contos, “O império dos sentidos”, já postado neste blogue e “Delta de Vênus”, ainda inédito no mundo virtual e por ora só disponível na obra impressa.
E, por falar nela, José Correia comunica que o selo está vendendo os livros diretamente pela internet. Basta entrar em contato com ele, através do e-mail: jctn68@gmail.com ou  telefone: 9136-3641 para quem desejar adquirir a publicação. O livro custará R$ 40,00, será pago em mãos ou via depósito bancário e entregue via Correios.

04 dezembro 2014

O império dos sentidos

Cefas Carvalho

Era o cheiro dele. Talvez fossem os olhos negros ou a forma que coçava a barba mal feita. Não, era o cheiro mesmo. Um perfume barato, almiscarado, mas, que, na pele dele, produzia uma substância que atraia como os ratos ao som da música do flautista.
Apareceu na minha vida como uma assombração. Em um barzinho, após uma sessão de cinema de arte, desabou na minha mesa, perguntou meu nome e se podia me pagar uma bebida. Respondi que eu me chamava Ludivine e que sim, podia me pagar uma cerveja desde que a bebesse comigo. Colou a cadeira ao meu lado e em dez minutos falava de cinema francês com a mão na minha perna. Senti um frisson subindo pela minha espinha até os bicos dos seios e me dei conta que fazia tempos que não sentia nada daquele jeito. Decidi que, se ele não falasse nenhuma merda nem pedisse nada com alho ou cebola, eu iria para a cama com ele naquela noite mesmo.
Era cinéfilo, o que combinava com sua barba mal feita e seus óculos de John Lennon. Chamava-se Ernesto. Falou sobre seus projetos, o curso de cinema que fazia, os roteiros que escrevia e me convidou para assistir na sua casa um curta que havia feito. Topei na hora, já estava derretida por ele e apertando as pernas de excitação.
Morava em uma quitinete bagunçada, mal mobiliada, mas, descolada. Elegantemente me serviu vinho - ah, danado, meu ponto fraco - e mostrou no DVD o seu curta. Era a história de um jovem que saía pela cidade em busca do pai que não conhecia, todo em preto e branco, um charme. Quando o filme acabou, nossas bocas se encontraram e nos engalfinhamos no sofá. Desajeitadamente, tiramos nossas roupas e ele começou a me beijar as pontas dos dedos dos pés, lentamente, como se estivesse ministrando um ritual religioso, e foi subindo pelas minhas coxas, alternadamente e quando eu estava quase enlouquecendo ele se deteve na pérola incrustada na ostra e se demorou sorvendo até que eu gozei. Ainda tremendo, percebi-o em cima de mim e, pelo amor de deus, gozei mais uma, duas, três vezes, em diversas posições, até que ele também gozou e desfalecemos no tapete.
Horas depois, após um banho e uma xícara de café, ele me mostrou sua coleção de DVDs e separou alguns para a gente assistir. Considerei aquilo uma declaração de que ele queria me ver mais vezes. E assim aconteceu. Em uma manhã de domingo, assistimos a O último tango em Paris e depois fizemos amor de formas pouco convencionais... Dias depois ele me apresentou aos filmes libertários de Pasolini e me mostrou o que se pode fazer com mel e sorvete... Enfim, a criatividade dele, em filmes e na cama, parecia não ter limites, foram vendas, algemas, unguentos, cordas, gelo, cremes, vibradores, panos, frutas, geleias...  Ernesto me conduziu a caminhos que eu jamais havia ido (que o diabo carregue os homens conservadores e cheios de pudores) unindo como se em uma coisa só o cinema e o sexo. Às vezes saíamos da sala de cinema direto para o apartamento dele, fazer amor. Outras vezes ele colocava um filme de Bigas Luna ou David Lynch e eu sentia, de repente, um calor subir em mim e me enroscava no corpo dele até baixar sua cueca e começar um outro filme... 
Tudo isso já passou. Há quatro meses ele recebeu uma bolsa para estudar cinema em Montreal e partiu. Voltará em quase um ano. Minhas amigas reclamam que eu não saio mais com elas, que fico reclusa em casa, parecendo uma ermitã, que não me cuido mais, negligenciei cabelo, unhas. Mas, se tudo que eu quero é ficar em casa, abrir um vinho, colocar um filme no DVD - Império dos sentidos, Shortbus, Deita comigo, Crash... - molhar de saliva dois dedos, baixar a calcinha e me tocar, pensando nele, luzes, câmera, ação!...

30 setembro 2014

Como quem morre


Cefas Carvalho


Corpo a corpo: nós

Na batalha inglória (do amor)

Destilando mel e fel da flor

Da fonte onde tudo o mais jorre...



Tua língua crua em mim

Unha, pelo, dedos, pele

Tudo que mais se revele

Do nada que nos socorre



Degusto em desvario, o teu sumo

Teu vinho, teu rio, teu licor

Em oceânica, alegre dor

Ondas: ressaca, praia, porre!



Dedos, sulcos, gozos, vãos

Teu corpo inteiro em minhas mãos

Eu?... Eu faço amor

Como quem morre!... 



Imagem: O beijo, de Arte Paz















16 setembro 2014

De andorinhas

















Cefas Carvalho

(Inspirado em verso e conceito de Jeanne Araújo)


uma andorinha só
em revoada
não faz verão

melhor mal acompanhada
que sozinha
nesta estação

sou andorinha
que faz outono
inverno, primavera

sou só minha
sem nenhum dono
andorinha-fera


Imagem: Chagall ("Entre guerra e paz")

31 julho 2014

Bloody Mary


















Cefas Carvalho


Um bloody mary
dois sonhos desfeitos
três da manhã...
Você tem um cigarro?
Costuma vir sempre aqui?
Por que está sozinho?
Quatro razões para ir embora
Cinco pensamentos negativos
Seis doses a mais...
Não me paga outro drinque?
O que vai fazer mais tarde?
Na sua casa ou na minha?


Imagem: "Café", Edward Hooper

17 julho 2014

Do conhecimento terreno













 
Cefas Carvalho 



que sei eu dos horrores
do espírito?

sei do orvalho
que embaça
as janelas
as retinas

sei do mel
que escorre
dos meus olhos
nas madrugadas

não sei de mundos outros
desconheço o não-visível

sei da terra onde piso
onde semeio meu suor
colho carne e sangue

sei das tempestades
e das ruínas
sei de fendas
e dos frutos da terra
 






Imagem: "Autorretrato", de Francis Bacon

14 maio 2014

Por que essa boca tão grande?


Cefas Carvalho


Eu odiava a minha avó. Sim, não tenho medo de admiti-lo, de maneira que quando minha mãe me obrigou a ir à casa dela, do outro lado do bosque, eu protestei, odiei, até que concordei, com mais vontade de sair de casa do que ficar nela.

O bosque não era perigoso, pelo menos não para mim, que desde mocinha conhecia seus meandros e segredos. Fora no bosque onde conheci o amor. Com o filho do lenhador, rapaz um tanto quanto limitado, mas de braços fortes e um peito onde eu adorava repousar a cabeça depois do gozo. Se minha mãe achava que eu era virgem, minha avó, essa pensava que eu ainda era uma menina, ainda mais porque as duas me forçavam a usar esse ridículo chapeuzinho vermelho, ridicularizado por todas as moças da vila e que me rendeu um apelido tão horrendo que ninguém sabe meu verdadeiro nome.

Bem, o fato é que eu estava andando pela floresta quando dei de cara com o Lobo. Eu sabia que ele não era realmente mau, apenas abobalhado, grande e com uma libido imensa. Jamais fizera mal a alguém a não ser quando provocado ou insuflado. Fizera-me raiva uma vez em que planejei numa festa - mal intencionada, sim, admito - par ele e e seus amigos lobos e eles não apareceram, o que me deixou doente. Foi quando tive a grande ideia. Disse ao lobo - bobo como todos os lobos e todos os homens - que minha vovozinha estava à espera dele, na casa dela, louca de tesão. O bicho saiu correndo, rumo à casa dela . Enquanto isso, sentei-me à sombra de uma árvore para fumar e eis que aparece o lenhador. Era já coroa, barba branca, mas me sorriu de uma forma estranha, de maneira que me subiu um fogo no meio das pernas que assobiei e ele veio até mim. Disse a ele que tinha sido atacada pelo Lobo e que precisava de proteção e ele me abraçou, dizendo que enquanto ele estivesse ali, nenhum mal me aconteceria. Aquela frase me excitou de forma que o apertei forte em meus braços, alisando suas costas e senti que ele também estava excitado. Com aquela brisa fresca correndo no bosque, o barulho dos vento correndo, acabou que... bem, ele me deitou ao chão e o resto vocês sabem. Quando acordamos, lembrei-me do lobo e da vovozinha. E conclui meu plano: O lobo, mau, queria atacar minha pobre avó. O lenhador - impulsivo e querendo me agradar - correu até a casinha e flagrou o lobo devorando minha vovó. Nem ligou para a cara de prazer dela nem para o desespero do lobo... Duas machadadas foram o bastante!... Hoje, escuto minha avó narrar sua epopeia de prazeres com o lobo... por que essa boca tão grande?...